Mariana Brochado estreia quadro do site da CBDA

6 anos ago 0

O esporte brasileiro é recheado de boas histórias. Por vezes, essas histórias ficam escondidas e poucas pessoas descobrem e passam a conhecer como aquele atleta se tornou ídolo para outras, como foram seus dias de esforço e suor para chegar aonde poucas chegam. Por isso, a partir de março de 2018, a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos inaugura o espaço Estrelas do Esporte.
Para estrear em grande estilo, a primeira entrevistada é a ex-nadadora Mariana Brochado, que brilhou nas piscinas e, mais recentemente, no canal de esportes Sportv.
Ela contou ao site da CBDA um pouco da sua história. Veja os principais pontos:

– Como a maioria dos atletas, você começou a nadar muito cedo. O que você lembra dos seus primeiros momentos na água?
Eu sempre gostei de ficar horas e horas dentro de uma piscina. Sempre era um parto me tirar de dentro d´agua, quando íamos ao clube. Aos 4 anos, meus pais me colocaram na natação para aprender a nadar e sabiam que não seria nada difícil de me convencerem a fazer esse esporte pela relação que sempre tive com a água. Aprendi a dar minhas primeiras braçadas no Flamengo, onde fiz toda minha carreira como atleta no clube por 20 anos. Lembro de sair da piscina menor, ir para outra maior e sempre admirando a piscina olímpica onde os atletas profissionais do clube treinavam. Meu pai sempre me incentivou demais no esporte, acho que era o sonho dele ver eu ou meu irmão se tornando um atleta profissional e minha mãe sempre cuidou de tudo, dos mínimos detalhes de alimentação, deslocamentos, horários. O que era uma diversão no inicio, foi se tornando cada vez mais importante e sério ao longo dos anos.

– Quando você começou a descobrir que aquelas aulas de natação se tornariam algo mais sério e você viraria atleta profissional?
Nunca fui das melhores até uns 13, 14 anos e isso começou a me desmotivar um pouco. Pensei em parar de nadar. Conversei com meus pais na época e com o meu treinador Ricardo Trovão, e foi ele quem me convenceu a continuar nadando. Disse que eu tinha talento, era comprometida e que os resultados viriam, que cada um tinha o seu tempo e que o meu chegaria. Ele me convenceu e, dali para frente, fui melhorando. Comecei a ser uma das melhores do Estado do Rio, depois comecei a ganhar umas medalhas em Campeonatos Brasileiros de categoria até ganhar meu primeiro título nacional absoluto com 17 anos. E ai as coisas foram acontecendo bem rápido: Primeira seleção brasileira absoluta, primeiro Pan-Americano, Mundial, Olimpíada. Fui realizando os sonhos daquela menina que queria nadar na piscina olímpica.

– Quais competições e resultados que jamais sairão da sua memória?
O Pan-Pacifico em Yokohama, no Japão, em 2002, quando quebrei o recorde sul-americano nos 200m livre pela primeira vez e fiz o índice para os Jogos Pan-Americanos do ano seguinte. O Pan de Santo Domingo, em 2003, quando fui prata no 4x200m livre e bronze nos 200m livre. O Mundial de Barcelona em 2003, quando cheguei à semifinal dos 200m livre e conseguimos classificar o 4x200m livre para os Jogos Olímpicos de Atenas. E, claro, a Olimpíada de 2004 quando chegamos à final no 4x200m livre, batendo o recorde sul-americano tanto nas eliminatórias quanto na final e terminando na 7a colocação.

– O que você guarda na memória dos momentos em que era atleta?
Principalmente as viagens com meus companheiros de seleção e de clube. O clima era sempre tão bom, tantas risadas, tantas historias e todos com o mesmo objetivo, de serem mais rápidos, de se superarem. Aquele frio na barriga antes da prova, tantas coisas que ficam passando pela cabeça, os questionamentos, a confiança, mas certa insegurança às vezes também. É um privilegio e uma sorte muito grande você se tornar um atleta profissional e viver disso por tantos anos. É uma vida de muitos sacrifícios, escolhas, determinação e comprometimento, mas que vale muito a pena. Por isso que sempre digo para meus amigos de esporte: vivam disso até o corpo e a mente não conseguirem mais, porque, sem duvida, é a melhor época de nossas vidas.

– Imagino que você tenha várias recordações das competições que participou, mas tem alguma em especial?
Tenho uma em especial – a primeira nos Jogos Olímpicos de Atenas. Minha preparação para a competição da minha vida foi impecável, estava treinando como nunca, fiz treinos e tempos durante um treinamento em altitude que deixou os técnicos de boca aberta e tinha certeza que estava preparada pra fazer o meu melhor tempo da vida nos 200m livre na Grécia. Mas não saiu do jeito que eu queria. Acabou que nadei 1 segundo acima do meu melhor e não consegui passar pra semi. Aquele dia me abalou demais. Não foi nervosismo nem nada, apenas não consegui colocar em prática tudo o que tinha treinado até ali. Foi decepcionante, mas tive que dar a volta por cima, porque dois ou três dias depois teríamos o 4x200m livre pela frente, sabíamos que teríamos chances de chegar à final e minhas companheiras precisavam de mim. Mudamos a ordem que tínhamos treinado no revezamento. Eu abriria, depois Monique Ferreira, Joanna Maranhão e Paula Baracho, mas como a Joanna estava fazendo uma competição impecável colocamos ela pra abrir e eu fui pra terceiro. Deu super certo, todas nadamos bem, realizamos nosso sonho juntas e fizemos historia. E essa superação pessoal me fez sair me sentindo um pouco melhor dos Jogos.

– Como surgiu a oportunidade de virar comentarista de natação no Sportv? Foi por acaso ou você já desejava isso?
Foi totalmente por acaso. Quando parei de nadar, no final de 2008, o Sportv estava começando com o projeto de ter ex-atletas comentaristas. Já tinha tido essa experiência, ainda quando nadava, no Pan de 2007. Então, quando me aposentei, comecei a trabalhar no canal em março de 2009 e depois virei produtora dos esportes aquáticos também ate outubro do ano passado. Foi uma experiência incrível onde cresci e aprendi muito lá dentro, acho que consegui colocar o mundo dá água no canal com matérias, levando atletas nos estúdios. Enfim, só queria continuar contribuindo com o esporte que me deu tanta coisa e divulgá-lo ainda mais para o nosso país dando espaço a nossos atletas aquáticos.

– Você imaginava que poderia participar de tantos eventos esportivos importantes (como Olimpíada, Mundiais, Pan-Americanos) como comentarista de um canal tão importante quanto o Sportv?
Sinceramente não! Depois que sai do canal, e fui fazer meu currículo, me dei conta mesmo da quantidade de coberturas que fiz pelo canal. Parece que a gente entra no automático e nem vai se dando conta, mas é realmente maravilhoso saber que continuei participando dos principais eventos internacionais mesmo que de uma outra forma e não mais como atleta. Espero ter correspondido da melhor forma, pois aquele espírito de atleta nunca sai da gente e sempre queremos ser impecáveis e perfeitos em tudo. Tenho orgulho de olhar pra trás e ver tudo com consegui até hoje.

– O que você leva de maior lição dos momentos vividos no Sportv?
Minha vida inteira eu fiz um esporte individual, em que o resultado final só dependia de mim mesma, mesmo tendo tanta gente envolvida por trás. E quando fui trabalhar no Sportv fui percebendo que eu era apenas uma parte do resultado final que iríamos ver no ar e que não dependia só de mim. Foi um processo que tive que ir me acostumando e que tenho certeza que me fez evoluir e saber trabalhar ainda melhor em equipe.

– Em meio a tudo isso, você foi nadadora, é formada em Direito e partiu para a área do jornalismo esportivo. Você acredita que pode continuar inspirando pessoas como você fazia quando nadava?
Espero que sim! É muito gratificante saber que a gente inspira alguém, é referencia para uma pessoa e que por alguma coisa que você fez ou faz é suficiente para te admirarem ou querer ser parecida com você. Mesmo sem saber, porque, para mim, certas coisas são tão naturais e que só estou tentando dar o meu melhor acabo atingindo, de boa forma, alguma pessoa. É sempre muito gostoso receber alguma mensagem de alguém que nem conheço, muitas vezes de tão longe, falando coisas que a gente não consegue ter ideia e dimensão do quanto representa pra essas pessoas. Não tenho intenção de deixar legado algum, mas se souber que fiz diferença na vida de alguém de alguma forma, para mim, já é e sempre será uma grande vitória. Esporte sempre foi a minha vida e espero que continue sendo de alguma forma, porque eu realmente não me vejo longe dele!

Departamento de Comunicação – CBDA