Carol Santiago é campeã e Brasil conquista seu 99º ouro em Mundiais de natação paralímpica

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A pernambucana Carol Santiago, da classe S12 (baixa visão), conquistou a primeira medalha de ouro do Brasil no Mundial de natação paralímpica de Manchester, Inglaterra, nesta segunda-feira, 31. A atleta foi campeã nos 100m costas, com o tempo de 1min08s89, seguida pela australiana Jenna Jones, prata (1min12s27), e pela espanhola Maria Delgado (1min12s65).

Além dela, o país conquistou outras quatro medalhas de bronze na estreia da competição: a potiguar Cecília Araújo, nos 400m livre da classe S8 (limitações físicas-motoras); o paulista Samuel de Oliveira, nos 50m livre da classe S5 (limitações físicas-motoras); o carioca Douglas Matera, nos 100m costas da classe S12; e o pernambucano Phelipe Rodrigues, nos 50m livre da classe S10 (limitações físicas-motoras).

O Mundial começou nesta manhã e reúne 538 atletas de 67 países até domingo, 6 de agosto, no Manchester Aquatics Centre. O Brasil é representado por 29 nadadores de 10 estados (CE, MG, PA, PE, PR, RJ, RN, RS, SC e SP), sendo 15 mulheres e 14 homens.

“Estou muito emocionada. Nem sei muito o que pensar. Estava na expectativa para nadar logo, mas as provas estavam atrasadas. Ainda bem que deu tudo certo. A gente só começou a competição. O programa é grande. Amanhã tem mais. Agora, eu preciso me organizar e baixar a euforia para nadar novamente”, disse Carol, que nasceu com síndrome de Morning Glory, alteração congênita na retina que reduz seu campo de visão.

No último Mundial, na Ilha da Madeira, em Portugal, a pernambucana foi prata nesta mesma prova. “Eu acredito muito no trabalho da comissão técnica. Tudo tem se encaixado muito bem. O resultado depende de todos os profissionais e nada como o entrosamento que vem com o tempo”, concluiu Carol, que dedicou a medalha de ouro ao irmão mais novo, Gabriel Santiago, e vai nadar mais sete provas em Manchester.

Com os pódios desta segunda-feira, a Seleção Brasileira soma 99 ouros em todos os Mundiais, além de 62 pratas e 92 bronzes. Falta apenas uma medalha dourada para o país chegar à sua 100ª em 11 edições do evento. Em Manchester, o Brasil terminou o primeiro dia de competição na nona colocação no quadro de medalhas – um ouro e quatro bronzes. A Itália lidera com oito pódios (seis ouros, uma prata e um bronze), com a Grã-Bretanha em segundo (quatro ouros, duas pratas e um bronze) e o Canadá em terceiro lugar (quatro ouros e um bronze).

A primeira medalha geral brasileira no evento foi da potiguar Cecília Araújo, bronze nos 400m livre da classe S8. Ela cumpriu a distância em 5min08s94, sendo superada pela italiana Francesca Palazzo, ouro com a marca de 5min01s46, e pela espanhola Nahia Zudaire, prata ao finalizar a prova em 5min05s91.

“Tenho as características de velocista e ganhar uma medalha em uma das provas mais longas da natação paralímpica é algo indescritível. Nadei os 400m para quebrar o gelo da competição e estrear com medalha não tem sensação melhor”, afirmou a atleta, 24, que teve paralisia cerebral no momento de seu nascimento, o que limita os seus movimentos.

Outra medalha de bronze do país foi conquistada pelo paulista Samuel de Oliveira, 17, que fez os 50m livre em 31s58 e bateu o recorde das Américas da classe S5. A melhor marca continental pertencia a Daniel Dias, que nadou a prova em 31s83, em setembro de 2019, na cidade de Londres, também na Inglaterra. O ouro foi para o chinês Jincheng Guo, que estabeleceu o novo recorde mundial com o tempo de 29s78, e a prata ficou com o também chinês Weiyi Yuan (31s57).

“Foi uma experiência muito boa. Eu gosto de bater recordes e melhorar a cada dia mais. Ainda tenho mais algumas provas. Espero diminuir ainda mais meu tempo”, disse Samuel, que precisou amputar os dois braços, na altura do ombro, após levar uma descarga elétrica de 13 mil volts ao tentar tirar uma pipa de uma árvore com uma barra de ferro.

Para chegar ao pódio, o paulista superou o chinês Lichao Wang, dono de quatro medalhas nos Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020. “Eu só os conhecia por vídeo até o World Series de Sheffield [Inglaterra]. Lá, eu pude ver os adversários chineses pela primeira vez, mas eles estavam segurando. Não nadaram no máximo deles. Então, eu não sabia o que encontrar aqui. Fico feliz por ter superado o Wang”, finalizou o atleta.

O carioca Douglas Matera também faturou um bronze no primeiro dia do Mundial. Nos 100m costas da classe S12, o atleta cumpriu a distância em 1min04s60. O ouro foi para o britânico Stephen Clegg (1min00s13) e a prata, para Raman Salei, do Azerbaijão (1min00s83).

“Comemorei muito quando soube da medalha. Celebrei como uma criança. Essa conquista vai para todos que torceram por mim. É a primeira competição como pai. É difícil ficar longe da minha filha. Sempre me derreto quando recebo fotos e vídeos, mas estou aqui por ela também”, destacou Douglas, que nasceu com retinose pigmentar, uma mutação genética hereditária, que causa perda gradual de visão.

O último pódio brasileiro do dia foi de Phelipe Rodrigues. Nos 50m livre da classe S10, o atleta nadou para 23s72 e ficou atrás dos australianos Rowan Crothers (23s42) e Thomas Gallagher (23s70). Essa foi a 18ª medalha do pernambucano em Mundiais. “Eu gostei como nadei. Foi meu melhor tempo da temporada. Estou muito feliz por mais um pódio para a minha carreira e para o Brasil. Vou desfrutar dessa nova conquista e me preparar para as próximas provas”, avaliou o nadador, que nasceu com o pé direito torto.

Entre os outros brasileiros que disputaram as finais nesta segunda-feira, o paulista Ruan Souza ficou na sexta colocação nos 100m peito SB9, com o tempo de 1min10s55. O pódio foi composto pelo italiano Stefano Raimondi (1min06s36), o alemão Maurice Wetekam (1min08s89) e o francês Hector Denayer (1min09s00).

O mineiro Gabriel Araújo chegou em sétimo na final dos 50m peito da classe S2, ao finalizar a disputa em 1min13s56. O ouro foi do mexicano Arnulfo Castorena (57s76), a prata, do também mexicano Cristopher Gregorio Sanchez (1min04s93), e o bronze, do italiano Emmanuele Marigliano (1min07s06).

Na decisão dos 200m livre da classe S14 (deficiência intelectual), o paulista Gabriel Bandeira terminou na quinta posição, com a marca de 1min56s90. O canadense Nicholas Bennett, ouro (1min54s75), o britânico William Ellard, prata (1min54s79), e o australiano Jack Ireland, bronze (1min55s38), formaram o pódio da prova.

A mineira Patrícia Santos disputou até a última braçada a medalha nos 50m peito SB3, mas acabou em quarto lugar ao encerrar a prova em 59s15, atrás da italiana Monica Boggioni (55s55), da sul-africana Kat Swanepoel (57s19) e da espanhola Marta Fernandez (58s83). A gaúcha Susana Schnarndorf nadou os 100m peito SB4 e ficou na sétima posição, com o tempo de 2min34s43. As medalhistas foram a italiana Giulia Ghiretti (1min50s64) e as chinesas Jiao Cheng (1min52s18) e Cuan Yao (1min56s80).

O paranaense Bruno Becker (S2), o catarinense Matheus Rheine (S11) e a paulista Esthefany Rodrigues (S5) nadaram nas eliminatórias nesta segunda-feira e não avançaram às decisões.

Antes das finais, atletas das 67 nações presentes na competição participaram de uma cerimônia de abertura, que também contou com uma apresentação musical da Untold Orchestra, além das presenças do presidente do Comitê Paralímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês), Andrew Parsons, da titular da British Swimming (entidade responsável pela natação na Grã-Bretanha), Karen Web Moss, e da prefeita de Manchester, Yasmine Dar. Na solenidade, o Brasil foi representado pelo nadador mineiro Gabriel Araújo e seu técnico Fábio Antunes.

As provas em Manchester ocorrem em dois períodos, com as eliminatórias pela manhã (madrugada no Brasil) e as finais, à noite (tarde no Brasil) – algumas disputas não têm qualificatórias. Todas as provas são transmitidas pelo YouTube do Comitê Paralímpico Internacional (IPC, na sigla em inglês). As decisões também podem ser acompanhadas pelo SporTV 2.

A Seleção Brasileira tem cinco nadadores com deficiência visual (17,2%), cinco com deficiência intelectual (17,2%) e 19 com comprometimentos físico-motores (65,6%). A composição da delegação brasileira foi feita com base nos 21 nadadores que atingiram índices estipulados pelo CPB em duas seletivas: o Open Internacional de natação e a 1ª Fase Nacional do Circuito Loterias Caixa da modalidade. Ambas as competições foram realizadas no Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo, neste ano. Além disso, outros oito nadadores foram convocados pelo Índice Mínimo de Qualificação (MQS, na sigla em inglês) do Mundial e por terem as melhores marcas para revezamentos.

Foto: Ale Cabral / CPB

Assessoria de Comunicação do Comitê Paralímpico Brasileiro